brazil

A segunda “cegueira” do dançarino e coreógrafo Duda Paiva, no auge da sua carreira internacional.

c2014_Marvin_Theater 28410

Duda Paiva como Van Gogh, foto de Petr Kurecka

A mágica de Duda Paiva desafia classificações. Acontece no palco e tem elementos de drama e humor, dança, música e manipulação de bonecos, mas o resultado é sempre maior do que a soma destes fatores. Depois de alguns minutos em cena, os bonecos desaparecem. Ou melhor, o manipulador desaparece. Ou, melhor ainda, os dois se fundem em uma nova realidade que dispensa explicações e barreira. Simplesmente hipnotiza, toca fundo e emociona.

A alma anárquica de Duda nunca permitiu que o seu corpo estivesse parado ou acomodado num lugar só. Aos 14 anos o levou para o teatro, e dali para a dança, ainda na Goiânia dos anos 80. De lá foi para a Índia, onde o butô a sequestrou e o levou para o Japão pra aprender com o grande mestre Kazuo Ono. Só anos depois, já na Holanda, um encontro com Porshia La Belle (uma boneca apresentada a ele pelo grupo Gertrude Theater de Israel) lhe permitiu construir uma base firme, a sua própria companhia teatral, e lhe deu um propósito de longo prazo: o desenvolvimento de uma técnica única, inédita e universal, que envolve a fusão de dança, teatro e manipulação de bonecos esculpidos por ele mesmo em espuma elástica. Hoje em dia a Duda Paiva Company, com base em Amsterdã, encanta os quatro cantos do mundo e o bailarino e coreógrafo goiano dissemina a sua arte através de espetáculos e workshops itinerantes que vão do Canadá à Austrália, do Brasil à Noruega.

Duda encontrou uma brechinha para falar com o Braziel em Amsterdã entre espetáculos em Lisboa e Dusseldorf, logo após uma aula fechada que ele deu ao diretor londrino do Lion King e um dia antes de partir para um mês de ensaios na Noruega. Em setembro, Duda é convidado de honra do mais importante festival de teatro de objetos do mundo: o Festival Mondial du Theatre des Marionnettes de Charleville-Mézières, na França. Ali ele estreia o seu novo espetáculo Blind, uma coprodução entre Austrália, Noruega, França e Holanda. Nesta entrevista exclusiva ao Braziel, Duda explica porque se sente insatisfeito com a Holanda e pretende passar mais tempo no Brasil, no futuro próximo.

 

cartazes do Festival Mondial du Theatre des Marionnettes de Charleville-Mézières de 2015, com os bonecos de Duda Paiva

A tua biografia, no site da companhia, começa em 96, quando você chega na Holanda. O que aconteceu do teu nascimento até 96?

Quando eu tinha 14 anos meu irmão me levou para uma escola de artes dramáticas em Goiânia. Lá eu comecei a fazer teatro e aos 15 eu já fui convidado pra fazer parte da companhia profissional. Como eu estava em transição de adolescente, a minha voz falhava muito, então eu não conseguia personagens com texto. A voz oscilava demais, então eu comecei naturalmente a me tornar o “physical clown” da companhia. Por causa disso eu descobri que eu era engraçado, que o meu corpo falava, tinha muita expressão e por isso comecei a fazer dança. Mas a minha paixão inicial foi atuar. A dança veio depois, foi complementar. Depois disso eu comecei a fazer dança no Royal Academy, que é uma franchising da técnica do Royal Ballet inglês, uma escola muito boa que tinha em Goiânia, e entrei para uma companhia de dança chamada Quasar, que estava iniciando. Lá eu fiquei 8 anos. Depois eu me mudei para a Índia, onde fiquei 2 anos. Lá eu conheci japoneses que faziam butô. Fui para o Japão estudar butô com o Kazuo Ono. Depois voltei para o Brasil. Montei um solo de Butô em Goiânia, imagina…. E ainda naquela época…. (risos). Eu sempre tive esta vontade de conhecer coisas completamente diferentes.

Como a tua família reagiu quando você começou a dançar?

Minha mãe ficou até aliviada, na verdade, porque eu era um menino muito doente, eu quase fiquei cego. Eu tinha um problema nos olhos, fiz dezoito operações, sofria demais. Mas fazer teatro em Goiânia naquela época ( anos 80) era foda, era muito difícil, tinha muito preconceito, era um tabu muito grande. Mas como eu não tinha vínculo com nada, não devia nada a ninguém, eu fazia exatamente o que eu queria.

E como você veio parar na Holanda?

Por duas razões: a primeira foi a saúde. Por causa da sensibilidade dos meus olhos eu ia me mudar ou pro Alaska, ou pra Noruega ou pra cá, lugares onde é mais escuro. Eu era muito sensível à luz, tinha muitas infecções nos olhos, era muita dor. Umas das razões era essa e o meu irmão já morava aqui. Então eu pensei: vou pra Holanda, vou tentar a vida lá. Mas no começo eu fazia testes e ninguém me pegava, então eu lavava banheiro, trabalhava de modelo pra pintores e escultores, comecei de baixo mesmo. Até que um dia, um coreógrafo me deu trabalho e, de lá pra frente, eu nunca deixei de trabalhar. Por causa do trabalho eu consegui meu passaporte Holandês.

Duda Paiva na Noruega em 2012

Você teve dificuldades em se adaptar? Como a Holanda formou a pessoa e o profissional que você é hoje?

A Holanda nos anos 90 era uma Meca de receptividade. Havia naquela época a crença (quase que utópica) de uma postura multicultural, multidisciplinar, que era tudo o que eu queria. Era o Paraíso e eu me encontrei artisticamente. A Holanda, naquela época, foi extremamente generosa.

Como os teus colegas da dança reagiram à tua transição para o teatro?

Meus colegas de dança nunca gostaram de mim (risos) porque eu trouxe uma paixão e uma selvageria oriunda do Brasil: a de fazer o que eu queria. . Apesar de eu ter alguma técnica, eu não gostava de fazer as coisas desenhadas no caderno. Eu acredito, até hoje, que na arte existe metamorfose, que existe movimento, que as coisas mudam e que precisa existir uma generosidade, uma troca generosa de informação. Então os coreógrafos me ofereciam uma coreografia, eu executava. Se ficava feio no meu corpo, ou se eu não gostava, eu sugeria mudanças. Eu não tinha nenhuma vergonha na cara. Eu falava: “tá aqui a sua coreografia, mas assim vai ficar melhor, isso combina mais comigo. Me dá uma cadeira?” Eu sempre gostei de objetos . Eu não gostava de fazer dancinha, fazer “partnering” com gente, eu gostava de cadeiras, tapetes…. E os coreógrafos adoravam e me deixavam fazer tudo o que eu queria, e os outros não podiam. Aí os críticos dos jornais falavam bem do meu trabalho, consequentemente isso gerava uma despeito de alguns colegas.

Como os bonecos entraram na tua vida?

Em 98 eu estava na Companhia  do coreógrafo Itzik Galili, ele convidou uma companhia de bonecos de Israel chamada Gertrude Theater, e queria fazer esta fusão entre dança e bonecos. Elas tiraram um boneco de dentro de um saco de lixo e quando eu olhei pro boneco (chamada Porshia La Belle), um novo mundo se abriu dentro de mim. Eu olhei pra Porshia e decidi: “eu vou fazer isso de hoje em diante. É isso o que eu quero!”. Foi amor à primeira vista.

porshduda2

Duda e Porshia , foto de Petr Kurecka

E você chegou a experimentar outros formatos ou materiais?

Nunca! Nada, foi aquilo e pronto. Eu só trabalho com a espuma e não tenho interesse em pesquisar outro material porque não existe outro material mais generoso que a espuma elástica. Ela é leve, ela proporciona horas de trabalho, tem um poder de metamorfose da máscara muito grande porque qualquer compressão dos dedos muda a expressão dos bonecos. E ao mesmo tempo, o corpo do boneco é uma extensão do corpo do bailarino. Nessa semiótica teatral a espuma traz um mundo todo novo e que é muito pouco explorado. E eu adoro estar neste tipo de situação onde tudo é novo. Tem outra coisa: a dança moderna estava me enchendo o saco, porque estava ficando muito elitizada, muito conceitual. Fazia sentido só pra quem estava fazendo, só para mundo da dança. O público não entendia nada. Por isso o público começou a não comparecer mais aos teatros. E o boneco me trouxe uma humildade, porque o boneco não te deixa mentir. Ele te força a estar no presente, no aqui e agora. Além do mais, eu entendi que eu era um amante de historias as quais os bonecos me ajudavam a narrar, sendo com palavras ou pela fisicalidade.

Agora que você dá workshops pelo mundo inteiro ensinando a técnica de interação com os bonecos aliada à dança, como anda a evolução da tua técnica por parte de outros artistas?

Ainda é uma técnica a ser formatada. Existem pessoas fazendo doutorados que trabalham comigo e estão tentando formatar, formalizar isso. Mas ainda falta muito, é uma jornada. Como a gente diz em Minas e Goiás: Ainda falta um queijo e uma rapadura.

Você alguma vez teve receio em compartilhar a tua técnica com outros artistas? Você já teve ciúme de ver um boneco teu com outros artistas?

Não, porque o que é nosso tá guardado. Eu adoro dividir. Muitas companhias me chamam pra assessorá-las, pra ajudar artisticamente, eu dou todas as minhas dicas, tudo.

Você sonha com os bonecos?

Nunca. Eu não sonho. Eu faço. Eu sonho, mas acordado.

Numa entrevista recente a um jornal de Goiânia você afirmou que a Holanda mudou muito nos últimos anos e citou a ascensão da extrema direita na Europa e os cortes no financiamento estatal da cultura na Holanda. Como estas coisas te afetam?

Afetam praticamente, porque os subsídios são menores. E pra mim a forma menos democrática de se governar é assim, acabando com a pesquisa teatral e restringindo o acesso ao teatro, que é uma manifestação do inconsciente popular. E o que a extrema direita faz é titubear as pessoas para que elas não questionem, para que elas não pensem. Eu acho isso uma coisa extremamente desleal e manipuladora. Realmente a Holanda não é mais o lugar que eu escolhi para morar. O que esta acontecendo comigo e com quase todo mundo que faz teatro, dança, música é que há menos acesso. Por exemplo, um jornal Holandês já não faz uma entrevista com você a menos que você seja uma companhia que recebe subsídio estrutural (n.d.r.: subsídio fixo por um tempo determinado, que não precisa ser pedido a cada ano). Isso é como que uma lei. Você pode ter o sucesso que tiver. E o artista estrangeiro aqui sofre ainda mais com isso. Eu até entendo como isso funciona. O pouco subsídio que ainda existe é dividido entre holandeses, entre talentos que possam representar a Holanda. Este é o “quest” deles, porque eles não têm tradição. A tradição que existia era a do multiculturalismo. Agora eles estão tentando reivindicar uma identidade que na verdade não existe. Isto é um paradoxo.

Você já se apresentou no Brasil, mas em situações isoladas, você nunca fez uma turnê pelo Brasil. Você tem vontade de promover o teu trabalho por lá?

Eu fiz espetáculos em São Paulo, Rio e Curitiba somente. Agora eu estou indo pra Goiânia de novo, levar meu primeiro solo ANGEL, através do SESC. E eu estou estudando a possibilidade de, através do SESC, desenvolver este sonho de fazer workshops mais logos. Acho que só através do SESC isso vai ser possível no Brasil. O SESC é aberto a este tipo de proposta. Eu estou desenvolvendo com eles esta proposta e o meu objetivo é fazer isso no Brasil, porque aqui na Holanda, eu não sonho mais.

Quais são teus planos pros próximos meses ou anos?

Eu estou montando um espetáculo que se chama Blind e é parcialmente a minha história de quando eu não enxergava. Eu passei quase dois anos sem enxergar, no escuro, por causa das operações. E esta sensação de não enxergar, de ter que reorganizar tudo, é a mesma sensação que eu tenho hoje em dia aqui na Holanda. Tudo sumiu e eu estou tendo que me reorganizar. É a mesma sensação de quando eu tinha os olhos vendados, de estar no escuro e ter que sobreviver, ter que me readaptar, encontrar na escuridão uma forma de sobreviver.

Continuando com a tua metáfora, esta sensação está aguçando outros sentidos em você?

Sim, eu estou tateando, tentando tatear estes elementos que vêm de dentro do escuro. Vozes, este mundo interno com a qual a gente só entra em contato quando está realmente de olhos fechados. É um mundo de sensações, de premonições, de intuição, é um resgate. Este espetáculo vai representar este resgate. É uma coprodução entre a Austrália, onde eu já passei um mês , a Noruega pra onde eu estou indo agora, também pra passar um mês, e a França, onde eu vou ser o convidado de honra do Festival Mondial du Theatre des Marionnettes de Charleville-Mézières. O espetáculo Blind estreia lá. Toda a mídia do mundo inteiro vai estar lá. Vai ser uma super exposição e eu vou expor esta vulnerabilidade que eu estou passando hoje em dia na Holanda.

Você pensa em, algum dia, voltar a morar no Brasil?

Penso!

Quando?

São planos pro futuro, assim daqui a um ano e meio…

E porque?

Por causa disso tudo. Na verdade não é mudar de vez para o Brasil, (alguns amigos dizem ser suicídio) é estabelecer uma ponte de intercâmbio entre a Holanda e o Brasil, ou entre os contatos que eu já tenho no mundo inteiro e o Brasil. Agora por exemplo, eu fiz a curadoria do festival de Charleville e eu podia convidar quem eu quisesse e eu convidei só companhias brasileiras. São companhias brasileiras que têm a curiosidade de fundir a dança com o teatro de objetos. Não é que eu queira me mudar para o Brasil por estar insatisfeito aqui. Existe sim uma insatisfação normal, mas existe também o fato concreto de tudo o que eu já realizei aqui e querer levar para lá, porque as pessoas lá têm uma curiosidade, uma vontade de ter acesso. E o Brasil é muito rico porque é uma forma diferente de pensar. E através da arte a gente abre os olhos. Os nossos olhos, como artistas e os olhos de quem está nos observando.

*FIM*

Pra conhecer melhor o trabalho de Duda Paiva, visite o site da sua companhia e assita  vários vídeos disponíveis no YouTube. Ou siga a pagina da Duda Paiva Company no Facebook. 

 

© 2015 Braziel , All pictures by Petr Kurecka

Brazilians Made in Holland #2: Duda Paiva 

Read more

Este Robin Hood holandês tem a missão de construir 1000 casas populares no Nordeste brasileiro.

quote dom gelderfoto do Facebook de Luc Bernoster

Luc Bernoster tem só 23 anos mas já sabe bem o que quer fazer da vida: ajudar os outros, deixar uma mudança positiva no mundo. Tudo começou há alguns anos quando um problema de saúde o deixou imobilizado por um bom tempo. Forçado a encarar a brevidade e fragilidade da vida, decidiu fazer bom uso da sua. Queria fazer algum tipo de trabalho humanitário, mas não sabia por onde começar. Descobriu que o irmão de um vizinho era um padre que tinha projetos sociais em comunidade carentes no Brasil e decidiu ajudá-lo, assim que o repouso obrigatório terminou. Logo depois, junto com outros 16 jovens holandeses, embarcou para o Brasil para ajudar o padre a construir uma igreja e uma horta comunitária na região de Campina Grande.

A chegada no Nordeste foi um choque: “ A primeira coisa que eu entendi foi que algumas pessoas simplesmente não têm como resolver os seus problemas, não têm nenhuma chance. Eu moro na Holanda e eu tenho. Uma das razões pelas quais as pessoas não tem nenhuma chance na vida, na região que eu visitei, é a absoluta carência de moradias. As moradias que existem são caras demais para as comunidades mais pobres e o governo do Brasil tem pouca influência sobre esta situação de mercado. Neste ponto eu pensei: alguém tem que fazer algo para melhorar esta situação e prometi àquela comunidade que este alguém seria eu.”

luc mao na massaLuc com a mão na massa, literalmente, durante sua primeira visita ao Brasil, em 2011.

Três semanas depois, de volta à Holanda, Luc retornou seus estudos pra se tornar agente imobiliário e começou a escrever um business plan, com a ajuda de um primo, bom de negócios, que gostou da ideia. O plano era construir uma pequena comunidade com 20 moradias e uma horta comunitária, cuja colheita seria distribuída entre os mais pobres. Através da namorada na época, ele conseguiu contatos na melhor escola de Administração de Empresas da Holanda. Estes contatos consideraram a ideia boa o suficiente para atrair possíveis investidores. Na mesma época, alguém apareceu na sua faculdade para dar uma palestra sobre construção com EPS. Tudo se encaixou na cabeça de Luc: segundo o palestrante, a construção com EPS era sustentável, mais rápida e mais barata que a construção com materiais convencionais.

EPS block
bloco para construção de EPS com a aplicação da tela de fibra de vidro

O que é EPS? O nome científico é “expanded polystyrene” e o nome comercial e patenteado é Airpop. Basicamente, o Airpop é um material resistente e isolante térmico, composto de bolinhas de ar coladas umas às outras com poliestireno, ( 98% ar, 2% estireno). É comparável ao material usado em embalagens de produtos eletrônicos e outros produtos frágeis. A diferença da versão usada para a construção é que ela é muito mais densa (muito mais bolinhas por m2), e uma tela de fibra de vidro é aplicada para que a pressão se distribua entre as “bolinhas” o que torna o material muito mais resistente. A sustentabilidade vem do fato que todos os restos podem ser reciclados até 7 vezes, a emissão de carbono resultante da produção do Airpop é menor comparada àquela dos materiais de construção tradicionais e as propriedades isolantes do material contribuem para um menor consumo de energia (com aquecedores em lugares frios ou ventiladores, no caso do Brasil) . EPS é 6 vezes mais isolante que os materiais de construção convencionais.

A ideia inicial da empresa EPS Building Solutions era de caráter humanitário : construir rapidamente moradias em comunidades destruídas por cataclismos como terremotos, furacões e tsunamis Logo depois, caiu a ficha na cabeça dos jovens empreendedores que fundaram a empresa e eles pensaram “ não precisamos esperar que uma tragédia aconteça. Luc explica: “O que acontece depois de um tsunami, por exemplo, é que muita gente fica sem casa, passa fome e chega a falecer, devido a condições sanitárias precárias. Mas em partes da África, esta é uma situação cotidiana, e em partes do Brasil também.“ Depois daquele momento “eureca!” , os fundadores da EPS se juntaram a outras empresas e em 2014 lançaram um plano ambicioso: 1 milhão de moradias construídas com EPS em 7 anos. 140000 já estão sendo negociadas em países como Nigéria, Ruanda e Gana, na África, e em outros países da America Latina e Ásia. Segundo Luc, o plano está andando de acordo com o cronograma. Ele explica que a parte mais demorada é antes da construção em si começar e envolve contatos com autoridades locais, agências de regulamentação, financiadores, etc.

Voltando ao nosso Robin Hood laranja, Luc agora é o responsável pelo desenvolvimento do projeto da EPS Building Solutions no Brasil, com a missão de construir 1000 moradias no país até 2020. No final de 2014 ele já passou 2 meses em Campina Grande estabelecendo os primeiros contatos oficias com o governo local. Ele explica porque este contato é importante: “ A construção com EPS chega a custar 40% menos porque a margem de lucro da empresa é de 2,5% (enquanto a margem de lucro praticada na construção convencional na região varia de 35 a 80%) e os custos com mão de obra também são  60% mais baixos.  Portanto, com o mesmo orçamento, as autoridades locais conseguem construir 40% mais moradias, e isso interessa a qualquer político. As moradias planejadas para a Nordeste brasileiro têm 62,50m2 de superfície e custariam aproximadamente 28.000 reais cada para construir.

Houseblock schuin plattegrond voor Eduardoplanta e simulação gráfica das moradias projetadas para o Brasil

Ele explica também que o aval do governo local é essencial para que o projeto da EPS Building Solutions seja aceito pelos financiadores do Programa Minha Casa, Minha Vida, a Caixa Econômica e o Banco do Brasil.

Além de fazer os contatos com o governo, agências de regulamentação, e eventuais fornecedores locais (o estireno poderia ser fornecido pela Petrobrás, por exemplo), Luc pensa também em tentar criar um projeto de transferência de tecnologia com uma das universidades de Campina Grande. As primeiras casas provavelmente serão construídas em Garanhuns, em Pernambuco, onde as discussões com o governo local já estão num estágio mais avançado. Num próximo estágio, duas fábricas serão construídas no Nordeste: uma para a produção dos blocos de EPS e a outra para a reciclagem dos restos. Luc fala com tanto entusiasmo e convicção sobre seus planos que é impossível não torcer junto para que seu sonho se realize. Go, Luc!!!

luc gabineite prefeito Garanhuns
Luc no gabinete do prefeito de Garanhuns (PE) , com seu bloco de EPS na mão.

© Braziel 2015

Read more

De twee allergrootste muzikale sterren van Brazilië treden samen op in Amsterdam.

caetano e gil foto fernando youngfoto: Fernando Young

Caetano Veloso en Gilberto Gil geven op 25 juni een concert in het Concertgebouw in Amsterdam tijdens het jaarlijkse Festival Viva Brasil. De titel van het concert is:Twee Vrienden, een eeuw muziek.

Er zijn genoeg redenen om dit niet te willen missen. Caetano en Gil (zoals ze liefdevol door de Brazilianen worden genoemd) zijn allebei de 70ste gepasseerd, en hebben ieder meer dan 50 albums uitgebracht. Zij worden nog steeds internationaal maar vooral in hun eigen land, Brazilië, beschouwd als de twee allergrootste nog levende sterren die de Braziliaanse Volksmuziek heeft voortgebracht. In Brazilië genieten beide heren de status van half goden.

Caetano en Gil zijn afkomstig uit de deelstaat Bahia en kennen elkaar meer dan 50 jaar, Ze hebben ieder hun eigen stijl maar hun levens en carrières zijn altijd verbonden geweest. Gil werd eerder dan Caetano bekend. In de jaren 60 woonden beiden nog in Salvador, het startpunt van hun carrière. Vier decennia later zong Caetano over die tijd in een lied waarin hij zijn moeder laat vertellen : “Aquele preto que você gosta, está cantando na TV” , vertaling: “Die zwarte die jij leuk vindt zingt nu op televisie.”

Midden jaren 60 ruilden ze Salvador in Bahia om, voor Brazilië’s grootste stad São Paulo. Beiden kregen landelijke bekendheid met hun eerste LP’s. Daar werkten zij samen met andere opkomende artiesten en deden mee aan de toen ontzettend populaire muziek wedstrijden op televisie.

In deze periode ( 1967 om precies te zijn) veroorzaakten beide met de hulp van andere progressieve musici, een revolutie in de MPB (Braziliaanse volksmuziek) door elektrische instrumenten en elementen van rock-’n-roll toe te voegen aan de toen nog brave en vooral akoestische muziek. Hiervoor werden de heren zwaar bekritiseerd maar ze zetten een beweging op gang die een paar jaar later Tropicalismo werd genoemd. Deze beweging volgt het kernidee van Antropofagismo, de Braziliaanse modernistische kunstbeweging uit 1922 die pleit voor de verwerking van buitenlandse invloeden in de lokale kunst om een echte Braziliaanse cultuur te creëren.

Gilberto Gil zingt “Domingo no Parque” samen met “Os Mutantes” tijdens Record Muziek Festival van 1967.

Caetano Veloso zingt “Alegria, Alegria” waarin de elementen van Tropicalismo ook duidelijke te horen zijn.

Na deze optredens groeide het succes en de bekendheid van beiden in snel tempo. De inzending van Caetano voor hetzelfde festival een jaar later is “ Tropicalia” , het manifesto-lied van de Tropicalismo beweging met in de tekst de regel : “Eu organizo o movimento (ik organizeer de beweging)” . De Tropicalismo beweging heeft tot nu toe talloze fans en beïnvloedde het werk van latere artiesten o.a. Kurt Kobain en Beck .

Tropicália, van Caetano Veloso

Het jaar daarop, in 1969, begon de meest gewelddadige periode van de militaire dictatuur in Brazilië . De militaire junta vaardigde een decreet uit (het decreet AI-5,) om het democratisch gekozen Congres te verwijderen. Vanaf dat moment, namen de arrestaties en politieke vervolging van de tegenstanders van de regering toe. Caetano en Gil, beiden al getrouwd en met kinderen besloten het land te verlaten om niet gearresteerd te worden. De teksten van hun liederen waren en zijn nog steeds nogal politiek geladen. Met hun gezinnen, verhuisden ze dat jaar naar Londen, waar ze tot 1972, in ballingschap woonden Ook toen bleven ze actief met hun muziek en lanceerden ze beiden albums waarop ze voor het eerst in het Engels te horen zijn.

Caetano Veloso’s “ Nine out of Ten” , gecomponeerd in ballingschap in Londen

In de decennia die volgden, terug in eigen land, werden Caetano e Gil uitgeroepen tot de beste artiesten van het land en hun internationale bekendheid werd steeds groter, mede door regelmatige optredens op het internationale jazz festival van Montreux en in New York’s Madison Square Garden concert hall. Ze wisten telkens weer, album na album, hun werk verrassend en innovatief te houden. Gil nam versies in het Portugees van artiesten zoals Bob Marley en Stevie Wonder.op. Caetano neemt in 1984 de eerste rap in Portugees op.. Beging jaren 90 nam hij een eigenwijze versie van Jokerman van Bob Dylan op.

Gilberto Gil’s versie van Bob Marley’s “No woman no cry”

Caetano Veloso’s versie van Bob Dylan”s Jokerman 

1n 1993, 25 jaar nadat Caetano “Tropicália” gelanceerd had, besluiten de twee weer samen een album te maken : het memorabele Tropicália 2, waarop de samensmelting van hun muzikale genialiteit te bewonderen is. Dit prachtige album heeft twee swingende nieuwe versies van hun eerdere samenwerking “Cada macaco no seu galho” uit 1972 , en van Jimmy Hendrix’ hit “Wait until tomorrow”.

Maar vooral de laag-tempo rap “ Haiti” werd een instant hit. De prachtige tekst, die eerder wordt gesproken dan gezongen, is een schrijnende kritiek over het racisme en de sociale ongelijkheid in Brazilië . Het refrein is zowel eenvoudig als krachtig ; “ Haiti is niet hier, Haiti is hier”   De clip van Haiti werd mede opgenomen tijdens het Carnaval in Salvador, de hoofdstad van Bahia.

In de koloniale tijd was Salvador Brazilië’s eerste hoofdstad en de grootste doorvoerhaven voor de slavenhandel. Honderdduizenden Afrikaanse mannen en vrouwen werden daar naar toe vervoerd en verkocht om als slaven op de suikerriet plantages te werken. Tot de dag van vandaag is meer dan 80% van de bevolking van Salvador zwart en veelal arm.

Haiti, uit het album Tropicália 2 

Tien jaar later, in 2003, was het politieke landschap inmiddels behoorlijk veranderd. De voormalige metaalwerker, vakbondsleider en oprichter van de Partij van de Arbeid  Luís Inácio Lula da Silva was democratisch gekozen als President van Brazilië en nodigde Gilberto Gil uit voor de positie van Minister van Cultuur. Gil heeft de uitnodiging geaccepteerd en was 5 jaar lang minister. In 2006, tijdens een vakantie, trad de Minister van Cultuur Gilberto Gil op in hetzelfde Concertgebouw in Amsterdam op zijn 64ste verjaardag. Duidelijk geëmotioneerd en altijd geestig, speelde hij toen “When I’m 64″ van de Beatles.

gil concertgebouw

Gilberto Gil in het Concertgebouw, 2006    foto: Eduardo Ramos

Nu, 22 jaar na het lancering van Tropicalia 2, en bijna 50 jaar na Tropicália, gaan de twee vrienden nog een keer samen op tournee.  De tournee werd kort geleden aangekondigd en er is nog weinig over bekend. De energie en levenslust van beide heren zijn om jaloers van te worden. Gilberto Gil komt naar Europa gelijk na afloop van een tournee van 13 concerten door Noord Amerika. Caetano reist in Mei door Brazilië met zijn solo tournee Abracaço. Een ding is zeker: het wordt een onvergetelijk concert. Het optreden in Amsterdam is de eerste van een reeks door heel Europa. Pas daarna gaat de tournee in Brazilië van start.

gil beija cetano foto cristina granato

foto: Cristina Granato

Meer informatie over Caetano Veloso en Gilberto Gil:

Gilberto Gil ( Interview in Engels )

Brazil – The Tropicalist Revolution ( documentaire in Engels)

2015 © Braziel.

Read more